Nanda Rovere
Dica de TeatroPor Nanda Rovere
A Grande Volta
O relacionamento entre pai e filho serve de mote para se explorar o sentimento humano e, como muitas vezes acontece, o medo de cobrança e reprovações faz com que mentiras sejam ditas e isso prejudique os relacionamentos.
Henrique (Rodrigo Lombardi) acabou de ser abandonado pela mulher. Bóris (Fúlvio Stefanini), pai de Henrique, é um ator que está desempregado há anos e consegue o papel de Rei Lear numa montagem de Shakespeare. Muda-se para a casa do filho sem avisá-lo e a partir daí o texto focaliza a alma masculina: os sonhos, desejos, frustrações, fraquezas e qualidades desses homens que precisam recompor as suas vidas fortalecem o afeto e os laços entre eles, apesar da dificuldade que possuem em demontrarem quem realmente são e de aceitarem os defeitos de cada um. Montagens que abordam relações familiares e nos fazem refletir sobre os sentimentos humanos são comuns, mas o assunto nunca se esgotará. Afinal, faz parte do nosso cotidiano. A criatividade do autor em criar histórias cativantes, bem como uma direção e atuações competentes, certamente garantirão a atenção do público para com a produção.
A direção de Marco Ricca valoriza o texto e as interpretações. Cenário, luz e figurino servem de ambientação e também proporcionam uma rápida troca do espaço em que ocorre a ação, sem deixar os olhos do espectador fixados nos atores. Os diálogos são bem estruturados e cada frase apresenta a emoção do personagem e/ou revela características da sua personalidade. Rodrigo Lombardi, pelos seus trabalhos nas novelas Passione e Caminhos das Índias, tem conseguido visibilidade na mídia, mas possui experiência no teatro, em montagens do Grupo Tapa. Fúlvio Stefanini, por sua vez, em mais de 50 anos de carreira é um nome de suma importância na história do teatro brasileiro, com participações na TV e cinema.
Os dois atores dão vitalidade ao texto e constróem os personagens com sutileza, especialmente Lombardi - que dá a Henrique o tom exato de um indivíduo que ama o pai, mas não consegue aceitar a sua personalidade, apesar de admitir que é muito parecida com a sua. Stefanini tem o seu melhor momento quando pai e filho saem para jantar e são presos. O ator se entrega com louvor à cena em que Bóris estabelece com Henrique um contato estreito, revelando fatos de sua vida. Está concorrendo ao Prêmio Shell, uma indicação que consagra a qualidade da montagem. As mudanças na trajetória dos personagens não são extremas, mas esse encontro proporciona uma oportunidade ímpar para que eles exponham opiniões e sentimentos até então nunca revelados.
A peça fica em cartaz até 15 de agosto. Vale conferir!
Ficha Técnica
Texto: Serge Kribus
Tradução: Paulo Autran
Direção: Marco Ricca
Elenco: Fúlvio Stefanini e Rodrigo Lombardi
Cenografia: André Cortez
Figurinos: Letícia Barbiere
Iluminação: Maneco Quinderé
Trilha Sonora: Eduardo Queiroz
Fotos: João Caldas
Local: FAAP - Rua Alagoas, 903 – Higienópolis – tel.: 11.3662.7233
Data: Até 15 de agosto de 2010
Preço: Ingressos: R$ 70,00
Horário: Sextas, às21h30; Sábado, às 21h; Domingo, às 19h
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