quarta-feira, 21 de julho de 2010

matéria sobre o FIT 2010 (São José do Rio Preto, SP)


Artistas fogem da lógica dos grupos e acumulam funções em espetáculos


MARCOS GRINSPUM FERRAZ

ENVIADO ESPECIAL A RIO PRETO

Na programação do 10º FIT (Festival Internacional de São José do Rio Preto) é difícil encontrar espetáculos com estéticas muito parecidas. A proposta, justamente, era trazer artistas singulares, que tenham criado linguagens próprias em suas trajetórias. Ao menos em um aspecto, no entanto, a maioria das obras se aproxima: são feitas por grupos.

Salta aos olhos, portanto, a proposta de dois jovens artistas com trabalhos "solitários": Luiz Päetow, 31, com "Abracadabra" (indicada ao prêmio Shell), e Gerrah Tenfuss, 24, rio-pretense que apresenta "Mel", seu segundo trabalho solo.

"A matéria é sobre teatro de autistas?", pergunta rindo Päetow, que além da atuação solo assina texto, criação, direção e produção da peça. "Fiz tudo, até a assessoria de imprensa."

Tenfuss, 24, também se apresenta sozinho em seu espetáculo de teatro-dança, com forte influência do butô japonês. E assina roteiro, direção, iluminação e sonoplastia.

"Não acho que seja mais difícil, porque eu já vou construindo o espetáculo pensando nas outras funções, como luz e música. Na criação, tudo pode vir junto", diz ele.

Ambos os atores já trabalharam em grupos, mas, após seguirem o caminho da criação solitária, dizem não sentir falta de algo como o teatro colaborativo, método usual no teatro nacional atual.

No lugar desse diálogo dentro dos grupos, Tenfuss e Päetow buscaram, em diferentes momentos do processo, se orientar captando as reações do público.

Antes de estrear "Abracadabra", assim, Päetow foi para as ruas em lugares e horários inusitados "apresentar" seu texto.

"Alguns davam risada e iam embora, outros paravam para ver, conversar." Segundo ele, isso enriqueceu a concepção do espetáculo, já que "o diálogo mais importante é o que se dá com o público".

Tenfuss, por outro lado, só apresentou a peça quando a montagem já estava estruturada. "Vou sentindo o que funciona ou não e posso mudar um pouco. Não deixo a coisa muito fechada no começo."

PLANOS FUTUROS

A escolha desses caminhos não significa, segundo eles, que haja um tipo de teatro superior a outro, mas apenas que os mais diferentes processos de criação devam ser experimentados.

"Acho que tem que ter todo tipo de teatro, feito por todo tipo de gente", diz Päetow. "E esse caminho ["solitário"] tem sido pouco explorado. Há um espaço interessante aí."

Enquanto Päetow afirma ter entrado em um caminho do qual não pretende sair tão cedo, Tenfuss começa a preparar seu próximo trabalho de forma um pouco menos solitária, passando direção, iluminação e figurino para outras mãos.

Mas, sozinho ou não, ele ressalta que "cada artista tem que ter espaço para desenvolver seu pensamento particular e sua linguagem própria." E conclui: "É uma questão de buscar sua identidade".

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