sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Nanda Rovere entrevista José Joaquim Madeira sobre teatro (Mangaratiba,RJ)


Entrevista: José Joaquim Madeira


Por Nanda Rovere

José Joaquim Madeira, presidente da ONG Vida Longa e Saudável e proprietário da pousada Imperial, é oficial da Marinha, secretário de Governo e está em Mangaratiba há algumas décadas.

Natural de Duque de Caxias, morou em Guaratinguetá, Brasília e Rio de Janeiro. Foi a Mangaratiba a passeio, mas acabou se envolvendo com o seu cotidiano e começou a ajudar a população, fixando residência na cidade.

É o idealizador do Carnamar, desfiles de embarcações que tocam música e saem de Itacuruçá, proporcionando diversão aos moradores e turistas durante o carnaval. No evento, são tocadas músicas de carnaval, axé e pop. A procissão de embarcações faz o caminho entre Itacuruçá e Ilha Grande O barco mais animado e mais enfeitado é premiado pela municipalidade.

Para mais informações: http://josejoaquimmadeira.blogspot.com/

Mostra Rio - SP de Teatro de Rua – O que o Senhor pode falar sobre Mangaratiba?

José Joaquim Madeira - A cidade é balneária, tem 32mil habitantes, está dividida em distritos e separada pela Serra do Piloto. Temos mar, serras e cachoeiras. Aqui encontramos uma tranqüilidade e uma hospitalidade muito boa. O município, que é muito belo e próximo ao Rio de Janeiro, é voltado ao turismo. Temos grandes condomínios que geram empregos e nosso objetivo é que as pessoas venham para cá e tenham lazer e entretenimento.

MRS - Mangaratiba também possui riquezas históricas. O que pode nos falar sobre isso?

Madeira - Mangaratiba era rota dos escravos e sedia o primeiro teatro e a primeira estrada de rodagem do Brasil. Temos um acervo enorme, como o junco da Marambaia e os quilombolas; são riquezas culturais que vêem da época do Império. Aqui, nós tivemos um desenvolvimento na época do café, éramos responsáveis pelo seu escoamento. Com a chegada da Central do Brasil, no entanto, o escoamento passou a ocorrer através da estrada de ferro e a cidade perdeu o seu poder. Ela só voltou a ser conhecida e a se desenvolver com a construção da Rio - Santos. De lá pra cá existe um trabalho por parte dos governantes para que a cidade se desenvolva, sem perder a tranqüilidade.

MRS - O Sr. havia dito que pretende contribuir para o desenvolvimento cultural da cidade...

Madeira - Estamos realizando ações para que tenhamos uma identidade própria e para isso é necessário que se invista. O meu esforço em contribuir para que a Mostra fosse realidade, foi justamente para mostrar que o empresário e a iniciativa privada podem realizar projetos interessantes na área cultural. A praça cheia demonstrou que todos estão carentes de cultura e ávidos para que haja mais apresentações teatrais em Mangaratiba.

MRS - E o teatro, ele é utilizado para eventos?

Madeira - O teatro é uma ruína que está conservada, mas não tem aplicação imediata. Pretendemos reviver e humanizar o espaço, colocando lá atividades de artesanato e realizando peças. É um desafio que passo para os artistas da Mostra: Montarmos uma peça e apresentarmos naquele espaço.

MRS - Como avalia a vida cultural da cidade?

Madeira - O Ailton (Amaral) está desenvolvendo no colégio João Paulo II um curso de teatro, mas ainda não encontrou respaldo dos cidadãos. Está começando a aparecer um ou outro talento que participará da própria Mostra, mas é um trabalho árduo.

Na área de artes plásticas temos um grande talento, que é o Messias Neiva. Não há, no entanto, projetos que incentivem os artistas a produzirem. Por outro lado, a parte musical está saudável e realizamos recentemente o Festival Gospel de Adoradores, que mostrou o potencial dos nossos cantores. Agora, o desafio é desenvolver manifestações ligadas à música pop.

MRS - Quais as suas preferências culturais? Neste sentido, tem o hábito de assistir teatro de rua?

Madeira - Aprecio MPB e teatro; é muito bom ir ao Rio de Janeiro assistir a espetáculos. Estou lutando para montar um teatro em Mangaratiba e conto com a ajuda do Ailton e do Reinaldo Sant`Ana. Eles estão animados com isso e acredito que irão me ajudar a fazer com que tenhamos, pelo menos uma vez por mês, apresentações teatrais.

Quanto ao teatro de rua, assisto quando vou aos grandes centros e acho muito interessante porque os artistas são fantásticos.

MRS - Qual é o envolvimento da ONG Vida Longa e Saudável no cotidiano de Mangaratiba?

Madeira - Ela pode ser conhecida através do site www.vidalongaesaudavel.org.br Esta organização mantém um trabalho de preservação do meio ambiente, de promoção da vida saudável e busca orientar as pessoas em como viver bem, como alimentar-se de maneira saudável e fazer exercícios.

MRS - Qual a importância da Mostra para Mangaratiba e o que levou a apoiar o evento?

Madeira - A Mostra traz a Mangaratiba um momento que pode ser histórico. Se soubermos agir podemos transformar Mangaratiba num pólo de teatro de rua. O Ailton eu conheço devido à atividade cultural que ele desenvolve na cidade, mas não tínhamos uma aproximação maior. Recentemente, fui procurado por ele porque estava com dificuldade de conseguir patrocínio para a Mostra. O governo do estado já havia liberado verba, mas ele não estava conseguindo o apoio da hospedagem e para a alimentação dos artistas. Eu como tenho consciência da importância que tem a cultura para o povo, disse ao Ailton que hospedaria os grupos na posada da qual sou proprietário. Fizemos o possível para acomodar bem as quase 70 pessoas que participam do evento. Nosso objetivo era mostrar à população de Mangaratiba e a quem se negou a patrocinar a Mostra, que o teatro de rua é uma forma de entretenimento e transmite às pessoas um conteúdo importante. Me senti muito feliz com o resultado, bem como com a possibilidade de poder contribuir com a cultura do município em que eu moro e que amo.

MRS - No início da entrevista você citou o papel dos empresários em valorizar a cultura. E o poder público, como deve atuar?

Madeira - O poder público sempre tem que agir, até porque tem que participar com a segurança, iluminação e cessão do espaço. A forma como foi feita a Mostra provou que é possível fazer eventos culturais sem a presença do poder público, com patrocínios da iniciativa privada e das pessoas físicas. Realizar eventos e juntar a população e os empresários na busca de soluções, não somente na área cultural, mas em outras atividades que contribuam para que a população tenha uma qualidade de vida melhor, é o ideal para que os artistas consigam viabilizar os seus projetos.

MRS - O teatro então pode transformar o mundo?

Madeira - Sim, porque cada peça é uma mensagem e as pessoas que a recebem podem multiplicar o ensinamento. Quero sugerir para que as próximas mostras sejam temáticas. Um exemplo muito bonito é a peça dos atores de Angola, que mostraram lindamente os problemas da guerra, vividos pelo país e fazendo uma homenagem ao estado de guerra que estamos vivendo no Rio de Janeiro.

MRS - Como foi receber atores de Angola em Mangaratiba?

Madeira - Na minha opinião foi fantástico, mostrou aos moradores de Mangaratiba que a cidade é vista em todos os lugares do mundo. Ver que os cidadãos angolanos atravessaram o Atlântico para se apresentarem na nossa cidade, foi um orgulho para nós. Foi um prazer recebê-los e procuramos dar a eles todo o carinho que eles merecem.

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