Soraya Belusi
As livrarias do país irão ganhar, a partir do próximo mês, um reforço significativo nas prateleiras que se destinam às obras teatrais. Notabilizada pela publicação de biografias de nomes importantes das artes cênicas e do cinema no Brasil, lançadas pela Coleção Aplauso, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo começa a ampliar sua atuação com o lançamento de textos teatrais de autores brasileiros contemporâneos.
Ainda no final do ano passado, autores como os premiados Newton Moreno e Bosco Brasil tiveram textos publicados na coleção Palco Sur Scène - "Agreste" e "Cheiro de Chuva", respectivamente -, que traz edição em formato bilíngue (francês e português). A Série Teatro Brasil também abriu espaço para esse segmento, reunindo trabalhos de Alberto Guzik, Chico de Assis, entre outros.
Mas a verdadeira ousadia, no que se refere ao mercado editorial, está por vir, em fevereiro, com o lançamento da coleção Primeiras Obras, dedicada a autores jovens, brasileiros e contemporâneos. Eles têm movimentado a cena teatral paulistana, concentrados principalmente ao redor da praça Roosevelt, região da capital paulista que virou uma espécie de "point" teatral. A organização é de Ivam Cabral, um dos fundadores e diretores do grupo Os Satyros, que mantém um espaço atuante no local.
A surpresa de Ivam Cabral com o telefonema do Magazine, para a apuração desta reportagem, demonstra o quanto a produção dramatúrgica atual anda desprestigiada junto à mídia e ao mercado. "É impressionante como conseguem ignorar esse movimento que está acontecendo", afirma o diretor. "Nós acreditamos que está acontecendo alguma coisa ali ao redor da praça, um movimento artístico que pode vir a ser um divisor de águas na cena contemporânea.
E a coleção Primeiras Obras vem para mapear um pouco o que está acontecendo ali. Não são as primeiras obras dos autores, mas, sim, desse movimento que está se firmando", defende Ivam, cuja obra também integra a nova coleção.
Para fevereiro, serão lançados dez volumes que reúnem 61 textos teatrais (saiba mais no quadro ao lado). Para o segundo semestre, uma nova caixa está sendo elaborada, o que demonstra uma cena ativa em momento de consolidação e desmente a ideia geral de que a dramaturgia contemporânea no Brasil esteja mal das pernas.
"Claro que a afirmação é absurda", afirma Hubert Alquéres, presidente da Imprensa Oficial. "Está aí o Newton Moreno para provar. E muitos outros. Procuramos publicar textos de dramaturgos dos mais variados estilos e idades. Você encontra peças de Abílio Pereira de Almeida, Alberto Guzik, Antonio Rocco, Chico de Assis, Emílio Boechat, Germano Pereira, José Saffioti Filho, Alcides Nogueira, Ivam Cabral, Samir Yazbek e Sérgio Roveri, Noemi Marinho.
Só gente talentosa, com obras inteligentes, criativas e, muitas vezes, viscerais. Que nos fazem pensar e refletir não só sobre o nosso país, nossa cultura, mas, sobretudo, sobre nós mesmos e nossa relação com o mundo", defende.
Ivam Cabral ressalta que a coleção Primeiras Obras reúne autores com idade média de 40 anos, determinantes para a análise desse momento da produção brasileira. Hubert concorda e ressalta que o critério para a publicação foi pautada na qualidade e na relevância artística de cada autor. "Também procuramos estar sintonizados com textos de dramaturgos voltados para temas atuais e que possam gerar debates, novas ideias e contribuição para o conhecimento.
Além disso, jovens autores são inspiração para o surgimento de outros novos autores e espectadores. São pessoas que estão despontando, construindo sua trajetória, contando boas histórias", garante.
Primeiras obras
Confira o que o organizador da coleção, Ivam Cabral, fala sobre cada um dos autores
Marcos Damaceno - "Diretor é um dos principais autores de Curitiba"
Otávio Martins - "Formado na Cia. do Latão, aposta no experimento"
Sérgio Roveri - "Um dos principais nomes de SP nos últimos anos"
Vera de Sá - "Uma dramaturga que se fixa nos detalhes"
Rudifran Pompeu - "Antes de tudo um diretor, já ganhou o APCA"
Gabriela Mellão - "Faz uma ponte direta com a dramaturgia europeia"
DramaMix 2007 - "Coletânea de peças escritas por vários autores"
Lucianno Maza - "Um dramaturgo que escreve sobre as desilusões"
Ivam Cabral - "Escreve principalmente para seu grupo, Os Satyros"
Sergio Mello - "Capaz de criar imagens extremamente poéticas"
Artes cênicas
Mercado sofre com escassez de títulos contemporâneosSoraya BelusiBasta uma ida às livrarias, ou mesmo uma pesquisa pela internet, para uma triste constatação: as principais editoras do país têm pouquíssimo espaço para a produção contemporânea brasileira nas artes cênicas. Magazine resolveu investigar o porquê dessa ausência.
A Jorge Zahar e a Perspectiva não se pronunciaram sobre a questão. Já a editora Paz e Terra ressaltou que se dedica às obras de não-ficção e que o selo Argumento, nova ação da editora voltada para o segmento da ficção, ainda não incluiu o teatro entre os seus lançamentos. A justificativa da Companhia das Letras é praticamente a mesma, ressaltando ser o carro-chefe da editora a literatura contemporânea.
A única exceção foi a CosacNaify, representada pelo editor Paulo Werneck. A Cosac tem se notabilizado pelo lançamento de obras fundamentais da dramaturgia mundial na série Dramática - como Brecht, Goethe, Beckett - e teve uma primeira experiência com a dramaturgia contemporânea brasileira com o lançamento das peças da Cia. do Latão.
"Percebemos que essas peças fundamentais da dramaturgia têm um universo iconográfico, histórico e crítico muito amplo. Mas, para se ter um ideia do que acontece no país, lançamos ano passado um Gil Vicente que era inédito no Brasil ("Auto da Sibila Cassandra"). Imagina se existe uma peça inédita do Molière na França? Isso demonstra um pouco a situação", avalia o editor.
"Tivemos iniciativas como a fotobiografia do Paulo Autran que, embora não seja a publicação de uma obra teatral, é um importante registro da cena brasileira. Mas, se compararmos a outros países, ainda há muito o que fazer pelo teatro brasileiro", avalia o editor.
Paulo Werneck ressalta que a iniciativa com a Cia. do Latão abre espaço para futuros lançamentos. "Estamos planejando ir nessa linha, afinal temos muitos grupos brasileiros com altos níveis dramatúrgicos que mereceriam ser publicados. Até agora não tivemos um projeto para dramaturgia contemporânea, mas não estamos fechados a essa possibilidade. Mas isso depende de um movimento que vem de fora, não apenas da editora".
Para Ivam Cabral, organizador da coleção Primeiras Obras, o mercado sofre pelo desconhecimento do que vem acontecendo nos palcos. "Acho que as editoras estão perdendo o bonde", afirma o diretor e dramaturgo. "Quem define o que será publicado, na maioria das vezes, não frequenta teatro e não sabe o que está acontecendo.
E, hoje, não existe mais a figura do dramaturgo que escreve sozinho. Eles estão dentro dos grupos, e a Grace Passô, aí de Belo Horizonte, é um exemplo disso. Os editores não perceberam que esse mercado mudou, que não existe mais o autor que escreve isolado e manda o texto para apreciação das editoras. É preciso acompanhar, nos palcos, a qualidade do que está sendo produzido. E é muita coisa", garante.
Liberado na web
A Imprensa Oficial de São Paulo disponibiliza seus títulos para download na internet, sem custo algum. Hoje, são mais de 170 títulos disponíveis. Os novos livros das três coleções dedicadas às artes cênicas no Brasil também serão incluídos na web logo após o lançamento oficial
Publicado em: 16/01/2010
Lucianno Maza - "Um dramaturgo que escreve sobre as desilusões"
Ivam Cabral - "Escreve principalmente para seu grupo, Os Satyros"
Sergio Mello - "Capaz de criar imagens extremamente poéticas"
Artes cênicas
Mercado sofre com escassez de títulos contemporâneosSoraya BelusiBasta uma ida às livrarias, ou mesmo uma pesquisa pela internet, para uma triste constatação: as principais editoras do país têm pouquíssimo espaço para a produção contemporânea brasileira nas artes cênicas. Magazine resolveu investigar o porquê dessa ausência.
A Jorge Zahar e a Perspectiva não se pronunciaram sobre a questão. Já a editora Paz e Terra ressaltou que se dedica às obras de não-ficção e que o selo Argumento, nova ação da editora voltada para o segmento da ficção, ainda não incluiu o teatro entre os seus lançamentos. A justificativa da Companhia das Letras é praticamente a mesma, ressaltando ser o carro-chefe da editora a literatura contemporânea.
A única exceção foi a CosacNaify, representada pelo editor Paulo Werneck. A Cosac tem se notabilizado pelo lançamento de obras fundamentais da dramaturgia mundial na série Dramática - como Brecht, Goethe, Beckett - e teve uma primeira experiência com a dramaturgia contemporânea brasileira com o lançamento das peças da Cia. do Latão.
"Percebemos que essas peças fundamentais da dramaturgia têm um universo iconográfico, histórico e crítico muito amplo. Mas, para se ter um ideia do que acontece no país, lançamos ano passado um Gil Vicente que era inédito no Brasil ("Auto da Sibila Cassandra"). Imagina se existe uma peça inédita do Molière na França? Isso demonstra um pouco a situação", avalia o editor.
"Tivemos iniciativas como a fotobiografia do Paulo Autran que, embora não seja a publicação de uma obra teatral, é um importante registro da cena brasileira. Mas, se compararmos a outros países, ainda há muito o que fazer pelo teatro brasileiro", avalia o editor.
Paulo Werneck ressalta que a iniciativa com a Cia. do Latão abre espaço para futuros lançamentos. "Estamos planejando ir nessa linha, afinal temos muitos grupos brasileiros com altos níveis dramatúrgicos que mereceriam ser publicados. Até agora não tivemos um projeto para dramaturgia contemporânea, mas não estamos fechados a essa possibilidade. Mas isso depende de um movimento que vem de fora, não apenas da editora".
Para Ivam Cabral, organizador da coleção Primeiras Obras, o mercado sofre pelo desconhecimento do que vem acontecendo nos palcos. "Acho que as editoras estão perdendo o bonde", afirma o diretor e dramaturgo. "Quem define o que será publicado, na maioria das vezes, não frequenta teatro e não sabe o que está acontecendo.
E, hoje, não existe mais a figura do dramaturgo que escreve sozinho. Eles estão dentro dos grupos, e a Grace Passô, aí de Belo Horizonte, é um exemplo disso. Os editores não perceberam que esse mercado mudou, que não existe mais o autor que escreve isolado e manda o texto para apreciação das editoras. É preciso acompanhar, nos palcos, a qualidade do que está sendo produzido. E é muita coisa", garante.
Liberado na web
A Imprensa Oficial de São Paulo disponibiliza seus títulos para download na internet, sem custo algum. Hoje, são mais de 170 títulos disponíveis. Os novos livros das três coleções dedicadas às artes cênicas no Brasil também serão incluídos na web logo após o lançamento oficial
Publicado em: 16/01/2010
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