quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Amante, de Pinter, temporada no Teatro Nair Bello (São Paulo, SP)


Paula Burlamaqui e Daniel Alvim

em

O Amante

d e H a r o l d P i n t e r

Direção de Francisco Medeiros

Em Cartaz no Teatro Nair Bello

“Não há uma grande diferença entre o que é real e o que é irreal, nem entre o verdadeiro e o falso. Uma coisa pode não ser nem verdadeira, nem falsa. Pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa.”

(Trecho do discurso de Harold Pinter, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura de 2005).

O texto de Harold Pinter, tradução de Maurício Paroni, provoca muitas e diferenciadas emoções e sensações. Esses estados alternados são um desafio inquietante e motivador para os atores Paula Burlamaqui e Daniel Alvim. Os dois estão em cartaz com a comédia dramática O Amante, no Teatro Nair Bello.

O escritor, com peças montadas pelo mundo afora, é reconhecido por ser um dos autores mais complexos e instigantes da cena teatral contemporânea, em função de sua sagacidade e sensibilidade acerca, principalmente, das relações afetivas conjugais.

Em O Amante, Pinter levanta provocações, certezas, dúvidas, surpresas, tendo o casamento como o mote principal. Os diálogos são repletos de conflitos, jogos de dominação e de poder, que afloram na convivência do casal Sarah (Paula Burlamaqui) e Richard (Daniel Alvim).

Nuances da intimidade e fantasias a dois, em que marido e mulher revezam-se entre algozes e vítimas, vão compondo uma história cheia de grandes revelações, alternadas por blefes e jogos eróticos. O resultado é uma atmosfera de desconfiança, na qual se perde o controle da verdade.

Na montagem, a verdade e a mentira terão de ser descobertas pela plateia, que no decorrer da peça, é convidada a tirar as diversas máscaras que acobertam as identidades do casal.

Para o diretor Francisco Medeiros, o brilhantismo do texto está na alternância de jogos conjugais e teatrais. “O texto explora a ambiguidade na dinâmica das relações amorosas”.

É uma enxurrada de sensações, em que a volúpia, a intempestividade, a impetuosidade, o sarcasmo, a franqueza, a subjugação, o desprezo e a cumplicidade estimulam atitudes cruéis, as quais, não raro, fazem parte do relacionamento romântico.

De acordo com Francisco Medeiros, a peça é um desafio, porque propõe várias identidades para duas pessoas casadas em uma tentativa vibrante e perigosa de manter a “saúde” do casamento. Um trabalho para atores corajosos...

Sarah e Richard são casados há 10 anos, porém jamais tiraram suas máscaras um para o outro. Eles disputam, competem e querem dominar o placar, de uma maneira chocantemente natural para o mundo de hoje.

Assim, eles acreditam que estão mantendo a vitalidade da relação e a renovação do prazer, em um mundo em que, invariavelmente, o cotidiano ameaça o amor com seus sintomas já conhecidos: a rotina e o tédio.

“Existem relações com a ausência total da máscara? É isso que o Pinter quer discutir, entre outros temas. Ele fazia essa pergunta em 1963 e até hoje ela pode ser aplicada tranquilamente”, conta Medeiros.

Segundo o diretor, “a peça apresenta algumas facetas do ser humano que não costumam ser olhadas, nem lembradas”. E como todo artista de alta qualidade, Pinter não aponta caminhos, nem soluções. Ele constata!

O texto apresenta um genial encadeamento de ideias ambíguas, comprovando a habilidade do autor como um artesão da dramaturgia, na opinião do diretor. “O diálogo é vivíssimo, ágil, sucinto e inteligentíssimo”, completa.

E para superar o desafio que o rico texto proporciona, Francisco Medeiros contou com uma equipe de mestres, como ele mesmo diz. O trabalho de corpo dos atores ficou a cargo de Neide Neves, que baseia sua formação na linguagem desenvolvida com Angel Vianna e, principalmente, com Klauss Vianna.

Aline Meyer, bastante conhecida no mundo teatral paulistano como autora de trilhas sonoras, soma em seu currículo mais uma vez, a assistência de direção. Marichilene Artisevskis é a responsável pelo figurino e o cenário, que alude ao mundo ambíguo dos personagens por meio de persianas, conta com a assinatura de Márcio Medina. Já a iluminação tem o estilo do não menos respeitado Maneco Quinderé.

O público tem assistido a uma peça recheada de suspense, ironia, graça, fantasias eróticas, fetiches... Em outros momentos, presenciam cenas de profundas emoções!

Sobre Francisco Medeiros

Bacharel em Direção Teatral, Crítica e Dramaturgia pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Como Diretor de espetáculos de Teatro, Dança e Ópera, iniciou a carreira em 1973 com a encenação de Fando e Lis, de F. Arrabal. Desde então já dirigiu mais de 100 espetáculos. Entre eles: Artaud, O Espírito do Teatro, de José Rubens Siqueira, Depois do Expediente, de Franz Xaver Kroetz, Tronodocrono, de Gabriela Rabelo e José Rubens Siqueira, Criança Enterrada, de Sam Shepard, Risco e Paixão, de Fauzi Arap, Marat-Sade, de Peter Weiss, A Gaivota, de A. Tchekov, Sherazade, de José Rubens Siqueira, Flor de Obsessão, de Pia Fraus Teatro, Eonoé, de José Rubens Siqueira, A Conferência dos Pássaros, de Jean-Claude-Carriière, Nossa Cidade, de Luis Alberto de Abreu, Uma Vida no Teatro, de David Mamet, Os IKS, de Colin Higgins e Jean-Claude-Carrière, Hamlet, de W. Shakespeare, Subúbia, de Eric Bogosian, A Última Gravação de Krapp e Fim do Jogo, de Samuel Beckett, O Pupilo quer ser Tutor, de Peter Handke, Alta Noite, de Elisio Lopes Jr., Loucos por Amor, de Sam Shepard, e Réquiem, de Hanoch Levin.

Além de encenador de textos clássicos das dramaturgias brasileira e internacional, tem demonstrado interesse por dramaturgos brasileiros vivos, muitas vezes em processos colaborativos de criação, tais como: Nossa, Cidade, Odisséia, Comovento, e Nonobertononemorto, todos de Luis Alberto de Abreu, Homeless, de Noemi Marinho, Antares, de Alcides Nogueira, Pequeno Sonho em Vermelho, de Fernando Bonassi, B-Encontros com Caio Fernando Abreu, de Lucienne Guedes, e, em 2010 Os Passageiros, de Flavio Goldman.

Desde 1999 é Diretor Artístico do Núcleo Argonautas de Teatro, em São Paulo. O grupo já desenvolveu dois projetos selecionados pela Lei de Fomento ao Teatro: O Que Morreu mas não deitou e Terra sem Lei. Além de Teatro, sua atuação na área da Dança como Diretor inclui trabalhos com o Grupo Cisne Negro (Iribiri), com Antonio Nóbrega (O Reino do Meio-Dia), Cia. de Dança Ruth Rachou (Auké, Scapus), entre outros. Em ópera, no Teatro Municipal de São Paulo, dirigiu Eugène Oneguin, de Tchaikowski, com regência do Maestro Isaac Karabtchevsky.

Teatro dramático, Teatro de Animação, Pantomimas, Teatro Físico, Teatro para Crianças, Performances são algumas das linguagens presentes na carreira de Francisco Medeiros, que lhe valeram mais de 40 prêmios em mais de trinta anos de carreira.

Alguns prêmios: Molière, Mambembe, Inacen, APCA, Apetesp, Governador do Estado, Coca-Cola Femsa, Panamco, além de doze Indicações para o Prêmio Shell de Teatro como Melhor Diretor ou na Categoria Especial. Merece destaque também o prêmio Internacional Angel Award, pelo espetáculo Flor de Obsessão, do Grupo Pia Fraus, considerado o melhor espetáculo de teatro físico do Festival Internacional de Edimburgo, em 1999.

Sobre Paula Burlamaqui

Formada pelo Centro de Artes de Laranjeiras, a atriz já atuou em oito peças teatrais. Entre elas: Lizístrata, dirigida por Domingos de Oliveira; Cartas Portuguesas, dirigida por Moacyr Góes; Fragmentos, dirigida por Antonio Abujanra; O Príncipe de Copacabana, dirigida por Gerald Thomas e Lavanderia Brasil, dirigida por Moacyr Chaves.

No cinema participou de sete filmes, entre eles: Paixão Perdida (dir. Walter Hugo Cury); Viva Sapato (dir. Luiz Carlos Lacerda); Gatão da Meia Idade (dir. Cláudio Fontana); Meteoro (dir. Diego de La Teixeira); Reis e Ratos (dir. Mauro Lima).

Paula Burlamaqui participou do elenco de onze novelas e cinco minissséries. Seus mais recentes trabalhos foram: Cama de Gato, de Duca Rachid e Telma Guedes, (dir. Ricardo Waddington). América, de Glória Perez, (dir. Jayme Monjardim), O Profeta, de Walcyr Carrasco, (dir. Roberto Talma) e A Favorita, de João Emanuel, (dir. Ricardo Wadington).

Sobre Daniel Alvim

Protagonizou com o personagem Gustavo a novela Vende-se um Véu de Noiva, de Íris Abravanel. Trabalhou em Revelação, também de Íris Abravanel no SBT. Na Rede Record, atuou em Luz Do Sol, novela de Ana Maria Moretzon, Essas Mulheres, de Marcílio Moraes e Rosane Lima, e Escrava Isaura, de Tiago Santiago e Anamaria Nunes.

Com uma longa trajetória no teatro, trabalhou com grandes diretores: Wladimir Capella, Gabriel Vilella, Ernesto Piccolo, Márcio Aurélio, Paulo Faria, Johana Albuquerque e Jairo Matos.

Seus principais trabalhos: Os Collegas, Le Defunt, Sua excelência o Candidato, Homem das Galochas, Um Certo Faroeste Caboclo, Dom Carlo de Verdi, Leila Baby, Sossego e Turbulência no Coração de Hortência.No cinema participou recentemente de Reis e Ratos (dir. Mauro Lima).

Sobre Harold Pinter

Pinter (1930-2008), que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2005, é considerado um dos mais importantes dramaturgos do Ocidente, da segunda metade do século XX.

E março de 1963, O Amante estreou em um especial para TV. A partir de seu sucesso, nasceu a adaptação para o teatro, que estreou em setembro do mesmo ano. O texto, que escreveu aos 33 anos, é uma de suas obras mais encenadas em diversas línguas e em diferentes países.

O escritor nasceu em Hackney, Londres. Em 1950 começou a publicar seus primeiros poemas. Trabalhou como ator em uma trupe de teatro popular, atuando durante mais de 5 anos nesta companhia. Sua primeira peça publicada foi “The Room”, em 1957.

A importância de sua escrita está na maneira extraordinária pela qual apresenta o universo das relações humanas.

Isso se dá por meio do cuidado meticuloso em sua dramartugia: “Toda sílaba, toda inflexão é calculada com sutileza. E as repetições e circularidades, as quais compõem a fala cotidiana, são usadas precisamente como elemento formal, no qual o autor pode compor a dança da sua linguagem”.

Com ele, o teatro realista ganhou novos contornos. Pela maneira como trata dos assuntos banais, ele costuma levar o público a uma viagem fantástica, a um mundo misterioso sem sair da atmosfera corriqueira (típica do teatro realismo).

O Amante

Teatro Nair Bello (200 lugares)

Shopping Frei Caneca - Rua Frei Caneca, 569 - 3° andar.

Telefone: 3472-2414

Bilheteria: de terça a sábado, das 14h às 21h30; domingos, das 14h40 às 19h.

Aceita todos os cartões de débito e crédito. Não aceita cheque.

Estacionamento R$ 6 até duas horas.

Vendas: http://www.ingresso.com/  e tel.: 4003-2330

Quinta, às 21h - R$ 30 - Sexta, às 21h30 - R$ 30

Sábado, às 21h - R$ 40 – Domingo, às 19h - R$ 40

Duração: 80 minutos

Recomendação: 14 anos

Gênero: Comédia Dramática

De 13 de agosto a 26 de setembro

Ficha técnica

Tradução: Maurício Paroni

Diretor: Francisco Medeiros

Elenco: Paula Burlamaqui e Daniel Alvim

Assistente de direção e trilha sonora: Aline Meyer

Preparação corporal: Neide Neves

Cenário: Márcio Medina

Figurino: Marichilene Artsevskis

Iluminação: Maneco Quinderé

Visagismo: Leopoldo Pacheco

Cabelos: Marcos Proença

Direção de Produção: Sonia Kavantan

Patrocínio: Furnas e Loterias CAIXA

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