Por Mario Abbade
Em breve temporada no teatro Sérgio Porto no Rio de Janeiro, A Inevitável História de Leticia Diniz é um dos espetáculos mais instigantes do circuito. O dramaturgo Marcelo Pedreira dirige e adapta o texto baseado em livro homônimo de se sua própria autoria, sobre o universo dos travestis brasileiros. O assunto espinhoso, que futuramente vai virar filme, propõe um debate sobre a discriminação desse grupo social.
Diferente do livro, a trama da peça ocorre em uma noite numa prisão suíça onde o travesti brasileiro Leticia está preso e ameaçado de deportação. Durante as últimas horas antes da chegada do delegado, ele tenta convencer ao carcereiro Saulo a libertá-lo. O diálogo entre as personagens é o alicerce vital para que Marcelo possa expor uma dura realidade sofrida pelos travestis.
Apesar do tema polêmico, Marcelo nao cai nas típicas armadilhas narrativas que popularmente surgem inseridas quando o assunto é travestis. O espetáculo possui um tratamento extremamente realista, objetivando trazer clarividência ao preconceito que os travestis sofrem, a partir do momento da descoberta de sua essência feminina presa a um corpo masculino.
Essa provocação estética demonstra-se na escolha da atriz Rosane Mulholland para interpretar Leticia. A beleza de Rosane é um elemento fundamental na quebra desse preconceito. Aliada a sua ótima interpretação, uma composição rica em nuances que garantem uma credibilidade ainda maior ao texto de Marcelo. Rosane recria com perfeição o mistério sedutor existente nos travestis, que ousam desafiar as regras da natureza: como algo tão esteticamente belo e doce, merece um sofrimento imposto pelo destino? Completando essas questão, Saulo Rodrigues no papel do carcereiro, que interpreta de forma brilhante a representação humana do preconceito diário com todas as suas contradições.
Vale também ressaltar no projeto as ótimas soluções criativas, como as vozes das outras presas (em off ditas por Letícia Isnard, Ângela Câmara, Cristina Flores, Helena Machado) combinadas com a cenografia (Marcelo Pedreira, Marcelo Chaffin e Felipe Nogueira), a luz (Marcelo Pedreira e Saulo Rodrigues) e os figurinos (Cláudio Marra).
A peça estreou no final de 2010 no teatro Glaucio Gil em Copacabana e agora retorna ao circuito também para uma minitemporada no Humaitá. Percebe-se que talvez deva estar enfrentando o mesmo preconceito da personagem ficcional do título. O público precisa despir-se desse comportamento discriminatório, devido ao assunto pouco convencional, e descobrir A Inevitável História de Leticia Diniz. O espetáculo escrito por Marcelo Pedreira é ousado e divertido, que ao mesmo tempo dá voz a um grupo social perseguido e incompreendido pela sociedade.
Serviço:
A Inevitável História de Letícia Diniz
Espaço Cultural Sérgio Porto
Rua Humaitá 163 - Humaitá, tel.: 2266-0896
Sexta e Sábado às 21h, e domingo às 20h.
Preço R$ 30,00
Censura: 14 anos
Travestis e transexuais têm direito à convite gratuito.
Até o dia 27 de fevereiro
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
A Inevitável História de Letícia Diniz tem Rosane Mulholland (Rio de Janeiro)
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