O belíssimo espetáculo “A Casa” (texto e direção: Rudifran Pompeu, Prêmio APCA 2006 de Melhor Texto) conta a história de um homem que volta à casa em que passou a infância e juventude, revivendo memórias e causos. Inspirado no universo de Guimarães Rosa. No Casarão da Escola Paulista de Restauro – R. Major Diogo, 91 (Bela Vista), quintas-feiras, 21h (até 15/dez). R$ 30 (meia R$ 15). Cotação: ótimo.
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Restauro de lembranças sertanejas no centro de São Paulo
Foto: Divulgação
Quem nos recebe é um tipo esquisito, meio assustador, numa sala toda decorada a la Guimarães Rosa, autor que inspirou a obra. O processo começou na união de um monte de atores, da qual despontou a mão-guia de Rudifran Pompeu, que acabou assumindo a coisa toda, escrevendo e dirigindo a montagem itinerante. Um gravador nos avisa pra “pelamordedeus” não estragar o casarão. Eles não dizem isso desse jeito, mas o que querem dizer é: “nada de pé na parede, nem de levar uma das muitas casquinhas da pintura como lembrança, ok?!”.
Devo confessar aqui que adoro textos. Montagens textocêntricas que são chatas para os outros, muitas vezes me deliciam. Neste caso, no entanto, me rendo: o texto é o de menos. É bonito, sutil, apropriado, mas é o de menos, porque a palavra que briga com vapor-de-água-quente-de-chuveiro + imagens + sons + cheiros + sabores… perde.
A história é muito bem amarrada e a sutileza da “passagem”/ “travessia” de Messias – que dá todo o sentido e unidade da obra – cria uma das cenas mais simples e emocionantes que já vi. Tudo isso apesar de o Messias ser o que podemos chamar de “manual explicativo da casa”. Ele é simpático, mas poderia tanto falar tão menos! Sabe quando dá aquela vontade de dizer: “xiuuu… a gente já entendeu!”?
A outra questão é que A Casa foi, se não me engano, a terceira peça sobre o sertão nordestino que vejo em duas semanas (as outras foram Ariano e A Hora e a Vez de Augusto Matraga). Emblemático, não? Fico procurando o sentido disso e acho que, por incrível que pareça, ainda estamos todos buscando uma identidade nacional (como fizeram criteriosamente tantos estudiosos como Darci Ribeiro, Sério Buarque, Caio Prado etc) e é bem difícil encontrá-la nos grandes centros que ficam tentando copiar mais direitinho possível as metrópoles internacionais (sem sucesso, claro!). É uma espécie de chacoalhão sacar que, talvez, o que haja de mais especial e único no Brasil esteja tão longe daqui – São Paulo – onde costumamos acreditar piamente ser o centro do país. Que país?
4 andares de palco
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