Walderez de Barros interpreta Hécuba
Por: Nanda Rovere
Para contar a história de Hécuba, Gabriel Villela criou cenas com muita beleza, sem deixar de lado o tom trágico da obra
Noite marcante foi a estreia de Hécuba! Cada vez que vejo um trabalho de Gabriel Villela, mais me apaixono pelo teatro e o considero a arte do encantamento.
Para contar a história de Hécuba, que perde seus filhos, e mostrando como a vingança é a maneira pela qual se faz justiça, Gabriel Villela criou cenas com muita beleza, sem deixar de lado o tom trágico da obra.
A tragédia fala da desumanização diante da guerra. Coloca em debate, por exemplo, a deturpação dos valores, o tênue limite entre o que é certo ou errado, o que é moral ou imoral numa guerra.
A tragédia acontece no acampamento dos gregos, à beira-mar, e nos coloca algumas questões: Como é possível para Hécuba lidar com a mítica do sofrimento e com a perda dos filhos? Quantas Hécubas existem hoje nas guerras? O que ela faz é vingança ou justiça? Qual o limite entre vingança e justiça? Qual o limite entre o homem bárbaro e o homem civilizado? O limite é muito pequeno e a vingança se transforma em algo nobre – aparece a questão da legitimidade da vingança: Hécuba mata os filhos de seu inimigo e arranca os olhos de Polimestor. Após a vingança, há o retorno ao animal presente na mitologia grega como um todo. Eis algumas questões presentes na obra, que é colocada no palco com maestria.
Walderez é a estrela! Tinha que ser ela a Hécuba! Magnífica, tom exato para a tragédia! A dor que Hécuba apresenta é insuportável e Walderez dá a cada frase um peso, uma dramaticidade que é impossível não se sensibilizar com tanta tristeza! A atriz, uma das maiores brasileiras, faz a sua terceira tragédia grega: já atuou em Electra, de Sófocles, em 1987, e Medéia, 1997, ambas com direção de Jorge Takla.
É muito bom ver atores experientes e competentes num trabalho tão intenso, com uma expressividade excelente, seja vocal ou corporal. O sentimento está à flor da pele. Flávio Tolezani, Fernando Neves, Léo Diniz, Luisa Renaux, Luiz Araújo, Marcelo Boffat, Nábia Vilela e Rogério Romera, todos merecem elogios, cumprem a sua função em cena com afinco.
O canto toca fundo na alma e transmite ao espectador todo o sofrimento de uma mãe que perde seus filhos; o sofrimento de um povo que vivia na glória, mas padecia na escravidão após a guerra. Um trabalho vocal excelente, que contou com a ajuda preciosa de Francesca della Monica e Babaya.
O candomblé, que norteia a movimentação do coro, nos coloca diante da força mística da natureza, diante da figura mítica da mãe que sofre pela morte dos filhos, mas cujo sofrimento, na verdade, é o sofrimento de todo o seu povo. Os movimentos e gestos são precisos, impactantes. Utilizo aqui uma observação de LUIZ CARLOS MERTEN: ¨O teatro grego tem origem na religião. As tragédias eram representadas como festas litúrgicas. Gabriel Villela, em Hécuba, restabelece a liturgia, acrescentando-lhe elementos de candomblé. Ele colore a tragédia -figurinos, adereços – sem carnavalizá-la. E ainda corta o texto, conduz nosso olhar, como num filme. Se o palco fosse tela, Villela seria o Cacoyannis do teatro brasileiro. Walderez de Barros, com sua máscara trágica, é melhor que Hepburn, mas espere para ver Nábia Vilela cantar. É arrasadora.¨, diz o crítico.
A sobriedade da tragédia domina o cenário, em contraste com o vermelho do ¨portal¨( que é a entrada para o infortúnio); o vermelho, que é dor e sofrimento, que é quente, chamativo, nos faz sofrer juntamente com os personagens…
As máscaras também são marcantes. Usadas no teatro grego, ganharam neste espetáculo um significado especial: a homogeneidade que elas apresentam representaram,, para mim, sofrimento não somente do povo grego, mas de toda a humanidade, que vive subjugada, submissa, escravizada…
Para contar a história de Hécuba, que perde seus filhos, e mostrando como a vingança é a maneira pela qual se faz justiça, Gabriel Villela criou cenas com muita beleza, sem deixar de lado o tom trágico da obra.
A tragédia fala da desumanização diante da guerra. Coloca em debate, por exemplo, a deturpação dos valores, o tênue limite entre o que é certo ou errado, o que é moral ou imoral numa guerra.
A tragédia acontece no acampamento dos gregos, à beira-mar, e nos coloca algumas questões: Como é possível para Hécuba lidar com a mítica do sofrimento e com a perda dos filhos? Quantas Hécubas existem hoje nas guerras? O que ela faz é vingança ou justiça? Qual o limite entre vingança e justiça? Qual o limite entre o homem bárbaro e o homem civilizado? O limite é muito pequeno e a vingança se transforma em algo nobre – aparece a questão da legitimidade da vingança: Hécuba mata os filhos de seu inimigo e arranca os olhos de Polimestor. Após a vingança, há o retorno ao animal presente na mitologia grega como um todo. Eis algumas questões presentes na obra, que é colocada no palco com maestria.
Walderez é a estrela! Tinha que ser ela a Hécuba! Magnífica, tom exato para a tragédia! A dor que Hécuba apresenta é insuportável e Walderez dá a cada frase um peso, uma dramaticidade que é impossível não se sensibilizar com tanta tristeza! A atriz, uma das maiores brasileiras, faz a sua terceira tragédia grega: já atuou em Electra, de Sófocles, em 1987, e Medéia, 1997, ambas com direção de Jorge Takla.
É muito bom ver atores experientes e competentes num trabalho tão intenso, com uma expressividade excelente, seja vocal ou corporal. O sentimento está à flor da pele. Flávio Tolezani, Fernando Neves, Léo Diniz, Luisa Renaux, Luiz Araújo, Marcelo Boffat, Nábia Vilela e Rogério Romera, todos merecem elogios, cumprem a sua função em cena com afinco.
O canto toca fundo na alma e transmite ao espectador todo o sofrimento de uma mãe que perde seus filhos; o sofrimento de um povo que vivia na glória, mas padecia na escravidão após a guerra. Um trabalho vocal excelente, que contou com a ajuda preciosa de Francesca della Monica e Babaya.
O candomblé, que norteia a movimentação do coro, nos coloca diante da força mística da natureza, diante da figura mítica da mãe que sofre pela morte dos filhos, mas cujo sofrimento, na verdade, é o sofrimento de todo o seu povo. Os movimentos e gestos são precisos, impactantes. Utilizo aqui uma observação de LUIZ CARLOS MERTEN: ¨O teatro grego tem origem na religião. As tragédias eram representadas como festas litúrgicas. Gabriel Villela, em Hécuba, restabelece a liturgia, acrescentando-lhe elementos de candomblé. Ele colore a tragédia -figurinos, adereços – sem carnavalizá-la. E ainda corta o texto, conduz nosso olhar, como num filme. Se o palco fosse tela, Villela seria o Cacoyannis do teatro brasileiro. Walderez de Barros, com sua máscara trágica, é melhor que Hepburn, mas espere para ver Nábia Vilela cantar. É arrasadora.¨, diz o crítico.
A sobriedade da tragédia domina o cenário, em contraste com o vermelho do ¨portal¨( que é a entrada para o infortúnio); o vermelho, que é dor e sofrimento, que é quente, chamativo, nos faz sofrer juntamente com os personagens…
As máscaras também são marcantes. Usadas no teatro grego, ganharam neste espetáculo um significado especial: a homogeneidade que elas apresentam representaram,, para mim, sofrimento não somente do povo grego, mas de toda a humanidade, que vive subjugada, submissa, escravizada…
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