quinta-feira, 25 de novembro de 2010
11ª Satyrianas 2010 em novo endereço, 78 horas de teatro (São Paulo,SP)
Teatro é feito na raça com criatividade e experimentação
CHRISTIANE RIERA / CRÍTICA DA FOLHA
Não importa etnia, filiação religiosa ou preferência sexual. Na praça Roosevelt de hoje, ainda há espaço para todos. Exíguo, porém. Muitas vezes, precário. Certamente, a maior concentração de diversidade por metro quadrado no cenário paulista.
Esse polo de experimentação é prova de que teatro ainda se faz na raça. Para isso, porém, é necessário fazer concessões, controlar a ambição cênica ou gozar de soluções altamente criativas.
Estandarte da pluralidade, Os Satyros continuam ousando abordar temas polêmicos ao incorporar produções independentes como o "Assurbanipal Magic Club", com direção de Maurício Paroni de Castro.
Nessa abordagem de clubes de swing, ninfomaníacos com crises existenciais funcionam como se estivessem em peça de Pirandello. Ainda citam filósofos, tingindo o tema do sexo com pinceladas mais cerebrais.
Sexualidade, aliás, é tema recorrente na casa, cuja programação continua focada em peças dirigidas pelo talentoso Rodolfo García Vázquez. Sua "Trilogia Libertina", sobre a obra do Marquês de Sade, segue como fenômeno catalisador de público.
Ainda em cartaz estão a primeira e última partes deste ciclo: "Filosofia na Alcova" e "Justine". Ambas empreitadas mais indulgentes que seus trabalhos recentes, os sólidos "Hipóteses para o Amor e a Verdade" e "Roberto Zucco", adaptação de Bernard-Marie Koltes.
PARLAPATÕES
Com curadoria atenta, os Parlapatões se fixam ao centro não apenas geográfico da praça. Além das peças de Hugo Possolo, acolhe reestreias consistentes como "Êxtase" de Mike Leigh, com direção de Mauro Baptista Vedia, e "Réquiem", do israelense Hanoch Levin, sob comando de Francisco Medeiros.
A vitrine de uma dramaturgia inovadora é garantida com "Noturnos", do celebrado autor norueguês Jon Fosse, dirigido por Mário Bortolloto, que também está à frente do monólogo "Como Ser uma Pessoa Pior", com a vigorosa Lulu Pavarin.
Entre os menores Studio 184, Teatro do Ator e Miniteatro, destaque para o último, liderado por Marília Toledo e Kleber Montanheiro, cujo "Kabarett", inspirado em "Ópera dos Três Vinténs" traz frescor ao dialogar o com gênero do início do século 20.
Comum a quase todos é a falta de recursos financeiros que, eventualmente, compromete o rigor artístico. Se tolerância é a viga mestra que sustenta a diversidade de montagens na praça, tal atitude deve também reger olhos de quem as vê.
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Revitalização da praça Roosevelt faz maratona de peças mudar de endereço
LUCAS NEVES / Folha On Line
A 11ª edição das Satyrianas, maratona de peças, performances e shows que agita a praça Roosevelt, no centro de São Paulo, começa hoje, em novo endereço.
A festa migra para o parque Augusta (esquina da Augusta com a Caio Prado) por um bom motivo: depois de anos de promessas, começou a revitalização urbanística do endereço que o teatro transformou, desde 2000, em polo de cultura da cidade.
Depois de reunir a boemia dos anos 60 e 70 em torno de bares, restaurantes e um cinema de arte, a praça amargou um limbo de duas décadas. Virou ponto de prostituição e tráfico. A violência veio a reboque. Em 1995, Bosco Brasil instalou ali o seu Teatro de Câmara, iniciando a reocupação. Pouco depois, a casa mudou de dono e se fez Studio 184. Também abriu as portas o Teatro do Ator.
O que acontece com a chegada da companhia Os Satyros, em 2000, é uma "enturmação com o povo da praça", nas palavras da professora e crítica de teatro Maria Lúcia Candeias. "Quem está do outro lado da praça é convidado a entrar. A vida e os personagens do entorno vão à cena", acrescenta a jornalista e dramaturga Marici Salomão.
VIOLÊNCIA
O público começou então a rever a Roosevelt como destino cultural. O assentamento artístico, porém, não foi seguido por um mutirão urbanístico. A marquise de concreto da década de 60 continuava a dificultar a circulação livre e segura pela praça --há registros de roubos e assaltos, e o dramaturgo Mário Bortolotto foi baleado na porta de um teatro em 2009.
"Não é o fato de os teatros organizados criarem um movimento de ocupação das calçadas que vai acabar com a violência. Quem vai ali à noite sabe onde está se metendo", afirma Celso Curi, produtor, crítico e editor do guia "OFF". "Mas sem o teatro, seria muito pior."
O crítico e pesquisador teatral Sebastião Milaré concorda. "O miolo da praça continua sendo um desastre. O poder público usou o movimento teatral para encostar o corpo." Para Marici, "o teatro na praça propõe soluções e saídas, mas não se está dizendo que a praça está salva".
Já Ivam Cabral, cofundador d'Os Satyros, diz que "gosta de pensar que o teatro é mais poderoso" do que o poder público. "Não recuperamos uma ideia territorial. Quando falamos de teatro na praça, é de uma calçada. Ninguém atravessou a praça."
Nos seis teatros da Roosevelt, a oferta é ampla: há 24 peças em cartaz, de segunda a domingo. É quase um supermercado de artes cênicas. "Isso reflete as condições nas quais se faz teatro hoje em São Paulo. Faltam espaços. É uma generosidade dos grupos proprietários, mas também é uma forma de financiar a manutenção de seus espaços. O exemplo deveria servir para teatros da prefeitura", avalia Milaré.
"Sou a favor da quantidade para se chegar à qualidade", afirma Marici, que define a cena da Roosevelt como "praça portuária, em que grupos jovens daqui e de fora podem ancorar". "Não se deve menosprezar a capacidade do público de escolher."
Também não se deve esperar uma estrutura de "teatrão", na visão de Maria Lúcia. "Não é lugar para cenários de [Charles] Möeller e [Claudio] Botelho [que fazem os grandes musicais no país]. O estilo da praça é minimalista, as produções não podem ser caras. A bilheteria não paga os custos de produção."
O que não significa empobrecimento do resultado, conclui Curi. "Se o olhar [do criador] for par interpretação e texto, ele se safa."
SATYRIANAS
Veja os destaques da programação desta edição
HOJE
20h - Roberto Zucco (Espaços dos Satyros 1)
21h - Festival de Peças de Um Minuto (Espaço Parlapatões)
21h30 - "Análise Comportamental da Música 'Eduardo e Mônica' (Miniteatro)
23 à 0h - "Foto (Memorial) Grafia" - performance/instação (em frente ao Espaço Parlapatões)
AMANHÃ
20h - "Desabafo - Teatro em Domicílio" - experimento cênico (distribuição de ingressos no Espaço dos Satyros 1)
23h - Pocket show Bárbara Eugênia e Convidados (restaurante Rose Velt)
4h30 - "Efêmeros 02" (tenda Cinemix)
SÁBADO
15h às 18h - "Cinematógrafos - Cinema e Literatura em Discussão" - palestra (Casa das Rosas)
20h às 24h - Performance sensorial - sessões a cada 30 minutos (tena Residência)
23h59 - "Como Ser Uma Pessoa Pior" (Espaços Parlapatões)
DOMINGO
2h às 4h - "Praça Roosevelt em 78 segundos" - performance (Espaço dos Satyros 2)
21h - "Woyzeck - Um Estudo Cênico" (tenda CineMix)
23h - Gambiarra invade as Satyrianas - festa de encerramento (Open Bar Club)
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Festival de teatro Satyrianas deixa a praça Roosevelt
AE - Agência Estado
O público já se acostumou, ano após ano, a atravessar as madrugadas na praça Roosevelt quando chega a época das Satyrianas. O festival de artes cênicas, criado em 2005 e incorporado ao calendário oficial da cidade, está de volta a partir de hoje. Mantém a programação intensa que o caracterizou, mas deve mudar provisoriamente de endereço. Com a reforma da praça, toda a sua área foi cercada, e, nesta edição, todas as suas tendas devem ser montadas na esquina das Ruas Augusta e Caio Prado.
"Não deixa de ser um movimento interessante", observa Ivam Cabral, diretor do grupo Os Satyros, que promove o evento. "As Satyrianas nasceram dentro do teatro, depois tomaram a praça e agora sobem a Augusta."
Assim como nos anos anteriores, serão 78 horas de muitas apresentações teatrais, nas quais o público paga quanto quiser. O grande atrativo da programação, contudo, continua a ser o Dramamix: modalidade em que 50 autores foram convidados para desenvolver obras curtas inéditas, que serão montadas por diferentes atores e diretores. A oferta é variada, mas de antemão vale a pena deter-se sobre algumas parcerias. Reconhecido como um dos grandes roteiristas de cinema da geração da Retomada, Braulio Mantovani escreveu "Pastas Suspensas", texto que merece montagem da cineasta Laís Bodanzky e interpretação dos inspirados Roney Fachini, Gustavo Machado e Paula Cohen.
Nesta edição, o grande homenageado será o dramaturgo, ator e crítico do Jornal da Tarde Alberto Guzik, morto em junho deste ano. Entre as novidades, Ivam Cabral aponta o projeto Residência - que irá montar textos dos alunos da Escola SP de Teatro em apartamentos da Praça Roosevelt - e o CineMix. O braço cinematográfico das Satyrianas deve ganhar novo formato, com a realização de um filme a ser todo rodado durante o evento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Satyrianas -
Parque Augusta. Esquina da Rua Augusta com a Rua Caio Prado. A partir de hoje, às 18 h, até domingo, às 23 h. Grátis.
Destaques do Dramamix:
Hoje, 20h. Dança da Consciência, de Marici Salomão. Direção de Ruy Filho, com Ricardo Pettine.
23h. João sem Maria, de Célia Forte. Direção de Elias Andreatto, com Denise Fraga e Elias Andreatto.
Amanhã, 1h. Doce Axioma, de Hugo Possolo. Direção de Claudinei Brandão, com Danton Mello e outros.
18h. O Homem n?Água, de C. Schapira. Direção de Vanessa Guillén, com Paulo Goulart Filho.
19h. O Rei do Bingo, de Marília Toledo. Direção de Luciana Ramin, com Barbara Melo e outros.
Sábado, 1h. Atirei no Dramaturgo, de Mário Viana. Direção de Otávio Martins, com Amazyles de Almeida, Pedro Guilherme e Vitor Moreno.
19h. A Técnica do Enrocamento, de Roberto Alvim. Direção de Luis Valcazaras, com Guto Vieira, Cesar Roldão e Marco Watanabe.
Domingo, 1h. Pastas Suspensas, de Bráulio Mantovani. Direção de Laís Bodanzky, com Roney Fachini, Gustavo Machado e Paula Cohen.
22h. Correnteza, de Gabriela Mellão. Direção de Mauricio Paroni, com Cia. Manufactura Suspeita.
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