terça-feira, 2 de março de 2010

Peça de Sinisterra estréia hoje no SESC Pinheiros, São Paulo/SP

02/03/2010

Aos 69, dramaturgo espanhol volta mais radical ao Brasil
CAIO BARRETTO BRISO
em colaboração para a Folha de S.Paulo, no Rio

É comum José Sanchis Sinisterra perguntar a si mesmo: "Onde estou errando? Como posso melhorar?". Foi procurando respostas que ele, frequentemente apontado como o maior dramaturgo e diretor espanhol da atualidade, desembarcou em São Paulo, em 30 de janeiro, para dirigir a companhia As Magnólias na montagem de sua peça "Flechas do Anjo do Esquecimento", que estreia hoje, no Sesc Pinheiros.


O dramaturgo e diretor José Sanchis Sinisterra, que estreia peça em São Paulo

Quando o espetáculo estreou na Espanha, em 2004, Sinisterra não ficou satisfeito. "Errei na escolha de dois atores e fui pouco radical. Desta vez, quero ser mais radical", diz ele, que vai completar 70 anos em junho. "Flechas", primeira montagem de As Magnólias --formada por Eveline Maria, Gabriela Fontana e Patrícia Gordo, com atores convidados-- conta a história de X, uma mulher que perde a memória e recebe, em uma clínica, a visita de quatro pessoas. Cada uma delas é uma voz do passado que tenta dar a X uma vida e uma identidade.

Para ser mais radical na montagem brasileira, o espanhol está submetendo o elenco a um "processo caótico de criação", que começa pelo corpo do ator e só depois entra no texto teatral. "Cada personagem tem movimentos minimalistas que se repetem. Eles são prisioneiros de condutas cíclicas", diz Sinisterra. "Temos a ilusão de que a vida humana é linear, mas ela é repetitiva --fodidamente repetitiva."

O autor gosta de trabalhar com atores brasileiros. Sua primeira montagem no país foi "Ñaque", em 1991, com a atriz Cristiane Jatahy no elenco. "O ator brasileiro é mais livre, mais flexível, tem um corpo criativo e inteligente", diz ele. "Ele está sempre inovando e revendo seu próprio trabalho. É muito profundo na sua investigação de dramaturgia", diz Jatahy, que pretende montar, com Ana Beatriz Nogueira e Caio Blat, "Deixe o Amor de Lado", texto inédito de Sinisterra.

Presunção proibida

Desde que começou a escrever para teatro, há 50 anos, Sinisterra produziu praticamente um texto por ano, com um intervalo na década de 1970 que ele define como sua "travessia do deserto", quando se dedicou mais a dar aulas. "Casei jovem, tive minha primeira filha e precisava de dinheiro."

Foi com as peças "Ñaque, Piolhos e Atores" (1980) e "Ai, Carmela!" (1986) --levada ao cinema em 1990 pelo cineasta espanhol Carlos Saura-- que Sinisterra nasceu para o mundo. De lá para cá, venceu os prêmios teatrais mais importantes da Espanha, como o Federico García Lorca, o Max e o Prêmio de Honra do Instituto do Teatro de Barcelona.

A partir de 1985, ele passou a ministrar oficinas de dramaturgia em diversos países. A América Latina é um destino recorrente --daí ele ser tão encenado no Brasil, Argentina e Chile. Para minar a presunção dos alunos, ele inicia suas oficinas dizendo: "Aqui é proibido escrever obras de arte".

FLECHAS DO ANJO DO ESQUECIMENTO

Quando: ter. e qua., às 20h30; até 30/3

Onde: Sesc Pinheiros - teatro Paulo Autran (r. Paes Leme, 195, tel. 3095-9400)

Quanto: de R$ 3,50 a R$ 15

Classificação indicativa: 10 anos

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