terça-feira, 4 de maio de 2010
Carta de Fernanda Tourinho, gestora do Teatro Jorge Amado, Salvador (BA)
Hoje é um dia de grande sofrimento para mim. Há pouco menos de um mês fui comunicada pela direção do UEC que este seria nosso último ano de atividade. Que tinha chegado ao fim o longo processo judicial a que respondia o UEC por não ter conseguido honrar o pagamento do empréstimo feito ao Desenbahia em 1997, para conclusão das obras do Teatro Jorge Amado.
Ainda sob efeito de grande comoção procurei saber das garantias efetivas de comprometimento para as reserva e contratos do corrente ano e houve resposta positiva para meus questionamentos, o que me fez manter-me serena para concluir meus trabalhos quase 13 anos à frente desta instituição - motivo de muito orgulho profissional, pois tenho certeza, além de ter sempre honrado todos os meus compromissos, sempre busquei um compromisso maior, tornar este Teatro Jorge Amado um espaço cultural da Cidade de Salvador.
Não dirigi um teatro de escola, dirigi um teatro que estabeleceu-se como um patrimônio da nossa sociedade, conhecido e reconhecido por seus serviços, pela sua política cultural, pelo apoio necessário aos artistas baianos, pelo bom atendimento aos artistas de outras praças e ao público em geral.
Nestes 13 anos o teatro Jorge Amado esteve aberto e participativo, promoveu e recebeu inúmeros eventos - primando pela diversidade, buscando a qualidade.
As dificuldades financeiras foram dribladas com o apoio incondicional do empresário Nô Brito, que ´muito generosamente me deu liberdade para conduzir artisticamente e administrativamente esta Casa. Um empresário visionário, amante da cultura e com uma história verdadeira de apoio e patrocínio de arte na cidade de Salvador. O empréstimo do Desenbahia foi talvez o único recurso público injetado no Teatro Jorge Amado, e o UEC, mesmo sendo uma empresa local, prestadora de serviços educacionais, com resultados sazonais e semestrais, assumiu nestes 13 anos todas as despesas para além de suas receitas - o que chegou a representar mais de 80% nos 10 primeiros anos de atividade.
A organização e manutenção, bem como toda a credibilidade comercial, foram conquistadas por uma equipe competente e leal - D. Sônia Garrido e a equipe adminstrativa e de manutenção, Zeca Mimoso e a equipe técnica, e não foram poucos os desafios, principalmente nos últimos anos, quando passamos a ter atividades diárias, uma demanda que nos exigia quase 24 horas de trabalho. Quase um sacerdócio, em se tratando de uma equipe tão enxuta.
Claro que não fomos só acertos. Muitos erros foram e são cometidos, a maioria nos serviu de aprendizado e nos levou à busca de melhorias.
Embora não esteja ainda definido o destino do Teatro Jorge Amado, tomei hoje uma decisão drástica mas que não poderia deixar de tomar: comunicar aos meus clientes e parceiros, principalmente àqueles que possuem reserva de pautas para o segundo semestre de 2010, a real situação do teatro, que efetivamente será entregue ao Desenbahia em 30 de Junho próximo. Não posso garantir os contratos. As reservas existem. Mas não há de fato definição se esta equipe da qual faço parte estará à frente do teatro. E vocês precisam saber disso por mim, pois foi a mim que as reservas foram solicitadas.
Posso estar me precipitando em dividir com você esta situação. Mas eticamente é minha obrigação e dela não posso me furtar, pois estaria traindo principalmente a memória dos meus pais, se não tivesse correção nesta hora.
Comunico que passei a última semana buscando respostas junto às autoridades locais, principalmente o apoio da Secretaria da Cultura do nosso Estado, mas não me sinto bem em esperar mais nem um dia, sob pena de faltar ao respeito àqueles que sempre confiaram em mim e pior, de impetrar prejuízos maiores e irreversíveis a artistas, produtores e empresas que sempre estiveram ao meu lado e me ajudaram a construir a história vitoriosa deste grande sonho.
Como pessoa envolvida com a cena cultural e artística de Salvador nos últimos 20 anos clamo a todos a lutar pela continuidade do Teatro Jorge Amado, um dos poucos equipamentos culturais completos de nossa cidade, de forma que o Governo do Estado, a quem o Desenbahia está vinculado, garanta sua existência e manutenção de seus serviços, que embora de foro privado sempre foi comprovadamente público, principalmente por sua escolha e determinação em servir prioritariamente às artes e ao público dela fruidor.
Peço desculpas por não poder ter podido evitar este desfecho.
Um abraço fraterno,
Fernanda Tourinho
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O Teatro Jorge Amado, não pode fechar por uma simples questão burocrática,o governo Jaques wagner tem que tomar uma posição favorável ao teatro , até mesmo por ser o Teatro Jorge Amado é um dos poucos Teatros em Salvador a oferecer um espaço com qualidade técnica e pessoal super capacitado .A população espera do Governo do Estado uma solução rápida.
ResponderExcluirFernanda Tourinho sendo a pessoa ilibada e coerente que é, tomou a decisão de forma corretíssima ( não sei se outros fariam a mesma coisa. ) Parabéns Fernanda .
Cara, Fernanda. Sou de Salvador, moro em Brasília há 12 anos, e uma série de circunstâncias me levaram a assumir a Fundação Brasileira de Teatro, entidade criada pelos inesquecíveis Dulcina de Moraes, Odilon Azevedo e tantos outros nomes do nosso teatro. Aqui assumimos uma situação muito difícil, mas graça aos esforços de todos, os tempos são de total revitalização da Faculdade Dulcina e do Teatro Dulcina, ambos mantidos pela FBT. Gostaria de entrar em contado com você para saber se há alguma maneira de ajudar...não podemos deixar o Teatro Jorge Amado fechar.
ResponderExcluirAbraços.
Guto Brandão
Fundação Brasileira de Teatro
Faculdade de Artes Dulcina de Moraes
Teatro Dulcina
augusto@dulcina.art.br