sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Peça de Brecht com direção de José Renato no Denoy (São Paulo, SP)

José Renato

"Santa Joana dos Matadouros", de Brecht, sob direção de José Renato, tem reestreia em 29 de outubro


José Renato, um dos mais importantes diretores em atividade no país, traz de volta ao palco do Teatro Denoy de Oliveira a peça "Santa Joana dos Matadouros", que retrata a grande depressão do início do século 20, mas que em tudo lembra a crise econômica desta primeira década do século 21. A reestreia de uma das mais instigantes obras de Bertolt Brecht será no dia 29 de outubro, sexta-feira.

O fundador do Teatro de Arena dirige a peça a convite do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas - CPC-UMES. A encenação teve grande sucesso de público e crítica na primeira temporada, nos meses de junho e julho deste ano.

Com um elenco de 17 atores e atrizes, além de três músicos, a peça trata das tensões entre capitalistas e das agruras vividas pelos trabalhadores de Chicago durante o inverno e no auge da crise econômica de 1929.

A professora de teoria literária, Iná Camargo, pesquisadora da obra de Brecht, à saída de uma das encenações destacou: "Dá gosto de ver!" "É a primeira encenação desde que se instaurou a crise e isso mostra uma capacidade de apreensão da realidade que é impressionante", prosseguiu a professora Iná, para quem "a peça mantém sua atualidade diante das necessidades de saída justa para a crise que enfrentamos nos dias de hoje".

O autor coloca em cena os mecanismos que levam à degradação da economia: superprodução, falta de mercado para escoá-la com os principais empresários tentando compensar a queda nos lucros através da especulação e do aumento da exploração, o que, por sua vez, leva à exacerbação das tensões com mais quebradeira, mais fome e produz seu oposto; os movimentos operários contra as duras condições impostas aos trabalhadores.

Ao receber informações de "seus amigos de Nova Iorque", sobre a iminência de um baque nos preços e vendas, Jack Pierpoint (Alexandre Krug), o rei da carne de Chicago, busca jogar o prejuízo nas costas de seu desavisado sócio Ambrósio (João Ribeiro).

Vem o fechamento de fábricas e o desemprego em massa. Tentando salvar a alma dos demitidos, aparece Joana (Érika Coracini), jovem pregadora dos Chapéus Negros. O encontro da inocência útil de Joana e da consciência ao mesmo tempo pesada e esperta de Pierpoint condensa as contradições sociais em meio a uma ciranda de especulação e desemprego.

Essa obra, pelas elucidações que é capaz de propor com precisão poética e dramática, demonstra plena atualidade diante de uma crise cuja profundidade se observa em seu pleno andamento. A realidade, já não nos deixa mais acreditar que "a desgraça vem como a chuva", como a bispa Bárbara empenha-se em dizer aos operários, mas ao contrário, como ressalta Brecht, autor da instigante obra teatral: "Só poderemos descrever o mundo atual para o homem atual na medida em que descrevermos um mundo passível de modificação".

Vale à pena assistir ao que o diretor José Renato considera "um espetáculo vivo, criado, em sua maioria, por atores jovens e motivados, e, por isso mesmo, polêmico e sujeito a alterações criativas". Aos que já assistiram à peça na primeira temporada vale a pena revê-la e comparar as alterações criativas encenadas pelo renovado elenco e os aportes ao trabalho já levado a cabo na primeira etapa.

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