No dia 6 de fevereiro às 19:30h, acontece no Centro de Teatro do Oprimido (Av. Mem de Sá 31, Lapa) o evento Madalena – teatro das oprimidas, com apresentação pública das produções artísticas resultantes do Laboratório Madalena (peças, performances, esculturas, pinturas, instalações, poesias etc), seguido de painel de discussão do tema apresentado. Ingressos GRÁTIS.
Laboratório Madalena
por Ney Motta*
Sempre buscando inovação nos processos de trabalho e aprofundando as pesquisas sócio-culturais das opressões, o Centro de Teatro do Oprimido realiza no Brasil, além de Guiné-Bissau e Moçambique, países da África lusófona, de janeiro a maio de 2010, o Laboratório Madalena. Trata-se de uma experiência cênica voltada exclusivamente para mulheres empenhadas em investigar as especificidades das opressões enfrentadas pelas mulheres e em atuar para a criação de medidas efetivas que contribuam para a superação dessas opressões e para a igualdade dos gêneros.
Segundo a socióloga Bárbara Santos, a experiência busca percursos de expressões estéticas e narrativas a partir do corpo feminino, esse corpo que ao longo dos séculos permaneceu escondido, protegido e oprimido pelo corpo masculino e hoje parece protagonizar, como objeto e sujeito, a ribalta de nossa sociedade midiática.
O corpo da mulher despido, exibido, sensual, trivial, reinventado, prostituído, espremido e despedaçado nos outdoors, nas páginas das revistas, nas passarelas da moda e do samba, é o melhor veículo para venda de qualquer produto. É no corpo feminino que se trava hoje, mais do que no masculino, o embate entre os hábitos ancestrais e a defesa dos direitos humanos fundamentais. Essa condição comporta ilusões, feridas, contradições e uma busca urgente de significados.
O ponto de partida para o Laboratório Madalena ocorreu em dezembro de 2009 com duas oficinas no Rio de Janeiro, sendo uma delas composta por um grupo de trabalhadoras domésticas nordestinas. A partir de janeiro de 2010, pelo menos quatro laboratórios acontecem no Ceará, Rio de Janeiro, além de Guiné-Bissau e Moçambique, países da África lusófona.
As produções artísticas resultantes desses laboratórios (peças, performances, esculturas, pinturas, instalações, poesias, músicas etc) circulam localmente, estimulando a discussão pública a respeito das opressões e violência contra o corpo da mulher, mesmo em tempos de revolução de hábitos e vivências, e da emancipação da mulher em diversos contextos sociais. Neste momento, todos os homens são convidados a atuar como espect-atores¹, nos eventos-espetáculos (geralmente um Teatro-Fórum).
“Essa participação fundamental para ativação de um diálogo propositivo que busque a transformação da realidade”, afirma a diretora Alessandra Vannucci.
Vencedor do Prêmio Interações Estéticas – Residências Artísticas em Pontos de Cultura, com patrocínio do Ministério da Cultura/Funarte e realização do Centro de Teatro do Oprimido, por iniciativa de Alessandra Vannucci, diretora teatral italiana, premiada no Brasil com o Prêmio Shell 2006 por ‘A Descoberta das Américas’ e na Itália com o Prêmio Arlecchino d’Oro 2007 por ‘Arlecchino all’inferno’, o Laboratório Madalena integra a residência artística da diretora no Projeto Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto.
As experiências cênicas do ‘Laboratório Madalena’ estão sendo desenvolvidas por Alessandra Vannucci e Bárbara Santos, socióloga e curinga² do Centro de Teatro do Oprimido, que possui larga experiência na formação de grupos populares no Brasil e na África, além de coordenar de programas de formação. A participação das mulheres segue por meio de uma convocatória pública distribuída e replicada, utilizando-se especialmente a internet.
Para apresentar os primeiros resultados da pesquisa, no dia 28 de maio, no Largo da Lapa, Rio de Janeiro, acontecerá o evento Madalena ocupa a Lapa, com apresentação de peças, performances, poesias (Madalena Encena), esculturas, pinturas, instalações (Madalena Expõe), show musical comandado por mulheres (Madalena Canta) e lona de discussão sobre a situação da mulher na sociedade atual (Madalena Debate).
A experiência está sendo registrada para o documentário Madalena e será publicada na Metaxis, a Revista do Centro de Teatro do Oprimido.
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* Ney Motta é assessor de comunicação do Centro de Teatro do Oprimido e editor de conteúdo do www.cto.org.br
¹ O espectador da sessão de Teatro-Fórum não é um consumidor do bem cultural e, sim, um ativo interlocutor que é convidado a assumir o papel do oprimido e/ou de seus aliados para interagir na ação dramática de maneira a apresentar alternativas para outros possíveis encaminhamentos ao problema encenado; Aquele que está na platéia na expectativa de atuar, entrando em cena trazendo sua alternativa para resolução do problema apresentado.
² Artista com função pedagógica, praticante, estudioso(a) e pesquisador(a) do Teatro do Oprimido, um(a) especialista em constante processo de formação.
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