segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A PROVA DE FOGO, Casa da Gávea / Rio de Janeiro, RJ

“A Prova de Fogo”
de Consuelo de Castro,
em cartaz na Casa da Gávea
às quintas feitas ás 21 hs.



 
É proibido proibir.

Sejamos realistas, peçamos o impossível.

Corram, amigos, que o Velho Mundo está atrás de nós.

Difícil é aquilo que demora um pouco. Impossível o que demora um pouco mais.

Ceder um pouco é capitular muito!

Quanto mais eu faço amor, mais quero fazer a revolução

1968: estudantes grafitavam essas idéias nos muros de Paris; no Vienã, um povo pequeno e pobre desafiava a potência armamentista americana; em Estocolmo e Copenhague Bertrand Russell e Sartre instalavam um Tribunal Internacional para julgar Crimes de Guerra e ensinar a reconhecer a verdade em um mundo em que predomina a mídia paga pelos donos do Poder; nos Estados Unidos jovens de todas as idades davam seu recado, com sua música - rock, blues, folk, gospel - que iria estourar em Woodstock e correr mundo; no Brasil, uma juventude aprendia a se organizar para lutar contra a ditadura militar instalada no poder.

Em toda parte, ninguém parecia disposto a silenciar: protestos, denúncias, contestações, manifestações de todo tipo. Ao lado da luta política, que já havia gerado as revoluções do século, outros movimentos – de mulheres, de negros - se organizavam, contestando os valores tradicionais, as posturas, os comportamentos, causando mudanças nos gestos e atitudes do dia-a-dia e na mentalidade que eles revelam. E mesmo vendo muitos serem assassinados – inclusive um John Kennedy ou um Martin Luther King - continuavam a criticar as contradições dessa sociedade, instigando a romper com o estabelecido.

Não é à toa que viriam a ser rotulados de geração da utopia ou geração da ruptura... e que essa

segunda metade do século tenha sido considerada “a era da juventude”.



“A Prova de Fogo” de Consuelo de Castro, em cartaz na Casa da Gávea às quintas feitas ás 21 hs. apreende bem as perplexidades e conflitos dessa mudança, agravada, no Brasil, pelo despreparo de um confronto desigual dessa juventude com uma ditadura militar opressora e violenta. Nela se mostra sua seriedade de propósitos, sua crença na própria ação, sua generosidade, sua entrega, sua gana e sua garra, apesar das falhas, equívocos, contradições, ou até mesmo ingenuidade que os induziriam a erros, alguns dos quais fatais.



A sensível intuição de Vera Fajardo e demais diretores da Casa da Gávea captou as afinidades entre o grupo que a peça retrata e o grupo que reencarna seus personagens na cena. Por isso, mais que um trabalho de atores, é importante a verdade que eles passam. Pois se os fatos são de uma época definida, as atitudes revelam o início de um crescente movimento da sociedade civil, em suas mais diferentes camadas, na busca de seus direitos e de expressão. São convincentes como estudantes, de hoje como de então, buscando marcar sua presença, fazer ouvir sua voz, agitando, incomodando, denunciando, alardeando tudo que deve ser do conhecimento de todos. Razão por que essa peça se mostra oportuna no momento mesmo em que se discute se o PNDH deve ou não abrir uma Comissão da Verdade para que as novas gerações conheçam melhor esse momento histórico. Um circuito universitário com esse trabalho seria uma boa iniciativa neste sentido. E uma boa ocasião para os universitários, sempre saudavelmente questionadores, repensarem seu papel e presença na sociedade atual.

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