quinta-feira, 15 de julho de 2010

Tríptico do Club Noir, direção de Roberto Alvim (São Paulo, SP)

"Tríptico" indica com vigor os caminhos futuros do teatro


LUIZ FERNANDO RAMOS

CRÍTICO DA FOLHA

Dramas não dramáticos para reinventar o teatro. As peças de Richard Maxwell que integram a série de espetáculos "Tríptico" convergem com o projeto que Roberto Alvim desenvolve desde 2008 no seu Club Noir.

Ambos os artistas têm em comum, além de serem dramaturgos e encenadores, a recusa a uma teatralidade convencional.

Maxwell é hoje, talvez, o mais radical dramaturgo norte-americano e um dos mais inventivos do mundo. Com sua companhia, a New York City Players, já encenou em diversos países 18 de seus textos, desde 1996.

Na contramão da tradição dramática que quer reproduzir a vida real no palco, ele crê que a realidade da cena é insubstituível. Ou seja, o que é real é a encenação.

Alvim compartilha essa curiosidade pelas potências ignotas da cena. Nos seus últimos trabalhos já vinha utilizando, por exemplo, cada vez menos luz e movimento.

Agora, com essas três peças, ele avança nessa investigação, respondendo ao sistema dramatúrgico desenvolvido por Maxwell com um modelo próprio e característico de encenar.

As montagens podem ser assistidas em qualquer ordem, mas têm em comum uma combinação de opacidade dramática e verticalidade dos conteúdos que emanam dos textos.

a atriz Janaina Afhonso está em "Burger King"

No primeiro, "Burger King", o ambiente é uma lanchonete; no segundo, "Casa", um núcleo familiar de classe média; e no terceiro, "O Fim da Realidade", uma empresa de segurança.

Nos três casos, esses universos habitualmente tratados dramaticamente com clichês e personagens rasos, reaparecem transfigurados, revelando relações densas que os padrões de tratamento do realismo psicológico jamais alcançariam.

Essa característica da dramaturgia de Maxwell -como um Beckett que, abandonando as abstrações, voltasse ao cotidiano- é incorporada e amplificada pelo minimalismo da encenação de Alvim.

Uma sintaxe de poucos e nítidos movimentos com iluminação mínima e fria, alternados por escuros totais e pontuados por irônicos micromomentos musicais.

Também convergentes são os estilos de interpretação dos atores, tanto os da companhia de Maxwell como os dos espetáculos do Club Noir. Eles são, ao mesmo tempo, naturais e contidos, maquinais e intensos, sem ênfase e agudos, e cumprem rigorosa partitura, que serve ao conjunto com eficácia.

"Tríptico" não deve arrebatar as massas, mas indica com argúcia e vigor raros no panorama atual os caminhos futuros do teatro.

TRÍPTICO

QUANDO sex., às 21h ("Burger King"), sáb., às 21h h ("Casa"), e dom., às 20h ("O Fim da Realidade"); até 26/9

ONDE Club Noir (r. Augusta, 331, tel. 0/xx/11/ 3255-8448)

QUANTO R$ 10

CLASSIFICAÇÃO 16 anos

AVALIAÇÃO ótimo

Um comentário:

  1. vamos sobreviver aos detratores. esse é mesmo o teatro do futuro. mauricio paroni de castro

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