segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dos Escombros de Pagu estreia no Teatro Eva Herz (São Paulo, SP)


Para comemorar os 100 anos do nascimento de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, um dos ícones femininos mais importantes da história brasileira, o diretor teatral Roberto Lage, a atriz Renata Zhaneta e a escritora e historiadora Tereza Freire uniram-se com o objetivo de realizarem um sonho antigo. Essa soma resultou na concretização da peça Dos Escombros de Pagu, que estreia dia 08 de setembro, no Teatro Eva Herz.

“Há muito tempo, a Tereza me entregou um ótimo texto que falava sobre essa mulher maravilhosa, incrível e que, infelizmente, foi execrada por um grande período. Depois disso, reacendeu uma vontade antiga (desde 1972) de realizar uma peça sobre essa mulher, por quem tenho uma grande admiração”, conta Lage.

Para o diretor, comemorar o centenário do nascimento de Pagu com essa encenação promove um grande orgulho, além de um trabalho muito prazeroso. “O texto apresenta questões, atitudes, comportamentos, entrega, poesia, sonhos, pensamentos liberais dessa vanguardista, os quais continuam estimulando reflexões no mundo de hoje”, completa ele, que também está sustentando financeiramente a montagem.

O texto é baseado no livro “Dos Escombros de Pagu”, resultado de uma tese de mestrado de Tereza Freire. A pesquisa, com quatro anos de duração, resgata a vida e a obra dessa importante precursora de comportamentos político-sociocultural brasileiros. Feminista, militante política, ilustradora, comunista e crítica literária e teatral, ela marcou a história do Brasil, revolucionando e chocando a sociedade dos anos de 1930, com suas ações e pensamentos inovadores.

“Depois de ver o meu trabalho pronto, senti que era importante torná-lo público. Tive a ideia de participar do PAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e fui premiada. Com o prêmio publiquei o livro. Mas, a linguagem era acadêmica e nem todos teriam acesso. Aí escrevi a peça e entreguei ao Lage”, explica Tereza.

O tempo passou, chegou o centenário e Lage apresentou o texto para Renata Zhaneta, que aceitou o desafio de pronto. “Eu gosto de teatro que grita, que diz algo importante para a plateia. Foi fácil me apaixonar e me identificar com a história de Pagu. Temos muitas coisas em comum”, revela a atriz.

Segundo Tereza, a escrita está presente em sua vida desde muito cedo, como forma de entender o mundo, as pessoas e, principalmente, a si mesma. “O texto foi escrito como um sopro, em uma noite apenas, mas é fruto de muitas noites em que passei em claro pesquisando. Estou muito feliz com a sua encenação. Ainda mais nas mãos deles. Confio totalmente, o trabalho está lindo”.

Lage e Renata, que costumam falar de seus trabalhos com grande paixão, contam que Dos Escombros de Pagu é um encontro de Pagu com o público. “Ela volta, aos 52 anos, para contar trechos mais relevantes de sua vida. É uma troca de experiências com muita paixão, fervor, graça e poesia”.

Dos Escombros de Pagu resgata Pagu do silêncio em que permaneceu durante muito tempo. A peça dá voz a Pagu, musa dos modernistas, militante das grandes causas da humanidade, amante da vida, inquieta, lúcida, mãe, filha, poeta, jornalista... Sem dúvida, ela tem muito ainda para falar!

‘O "personagem Pagu" conta sua história com a generosidade que sempre a acompanhou e reflete com leveza e intensidade suas principais questões, da infância à morte’, explica Renata, que como Pagu foi militante em Santos, defendeu causas sociais, pertenceu ao Partido Comunista, lutou pelos sonhos e, conforme ela, ainda continua sonhando com um mundo mais humano, solidário, justo...

No palco, a plateia acompanhará sua relação com Tarsila do Amaral e os modernistas, com seus filhos, amores, amigos, família, viagens, descobertas, alegrias, tristezas. “Verá desde a menina irreverente à mulher guerreira em que se transformou”, esclarece Renata.

A montagem, entre outros aspectos artísticos e sociais, colabora para a reflexão sobre a importância de se reconhecer e preservar a memória dessa ilustre brasileira. Em um período em que as mulheres tinham pouco espaço para se expressar, Pagu teve a coragem de questionar a opressão sofrida pelo gênero feminino na época, os patrões sociais, a hipocrisia de políticas instaladas etc.

Sobre Roberto Lage

Diretor paulista, com vasta atuação nos vários gêneros do teatro. Iniciou a sua carreira, como ator, em 1962. Como diretor, começou em 1969 e, desde então, não parou mais. Atuou no teatro universitário Sedes Sapientiae (1970), com a direção de “Chico Rei”, de Walmir Ayala. Nos dez anos seguintes, dedicou-se a grupos profissionais, amadores e estudantis, solidificando a sua carreira por meio de um repertório variado. O seu primeiro sucesso foi “Mrozek”, de Slawomir Mrozek (1974). “À Flor da Pele”, de Consuelo de Castro (1976), lhe rendeu o Prêmio Molière de melhor direção. Entre suas montagens, destacam-se: “Mãos ao Alto, São Paulo!”, uma comédia de Paulo Goulart, “Mal Secreto”, de José Antônio de Souza, “Besame Mucho”, comédia de Mario Prata, “Escola de Mulheres”, de Molière, “Tanzi - Uma Mulher no Ringue”, de Clara Luckhan, “O Gosto da Própria Carne”, de Albert Innaurato. As duas últimas, por suas premiações o consolidam como encenador. Com “Meu Tio, o Iauaretê”, de Guimarães Rosa, mereceu o Prêmio Molière. “Peer Gynt”, de Henrik Ibsen, tornou-se um sucesso cult em 1990. Ainda, “Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues, e A Ópera do Malandro, de Chico Buarque, no Teatro Carlos Alberto, do Porto, em 1996. “Anchieta 400 Anos”, performance de Arrigo Barnabé e “Cheque ou Mate”, de Ricardo Semler. Seus mais recentes trabalhos são “Escola de Mulheres” (revisitação) e Zorro, O Musical, em cartaz no Teatro das Artes.

Sobre Renata Zhaneta

Iniciou sua carreira em Santos (1974). Lá, trabalhou com diretores, como Tanah Correa e Marco Antonio Rodrigues. Fundou nos anos 80 o Grupo Gextus, com Neyde Veneziano e Dagoberto Feliz, em que investigava o teatro popular brasileiro, sendo premiada com as peças "Revistando o Teatro de Revista", "Procurando Firme" e "O Noviço". Na década de 90, fundou, juntamente com outros artistas, o grupo "Folias". Trabalhou com o Grupo Tapa, com Mario Bortollotto. Dirigiu, com a Cia. Estável, a peça “O Auto do Circo” e, com “As Atuadoras, “Mulher a Vida Inteira”. Dirigida por Wladimir Capella, atuou nas peças "Maria Borralheira" e "Clarão nas Estrelas", recebendo o segundo Prêmio APETESP. O primeiro foi em "Enq, o Gnomo", dir. Marco Antonio Rodrigues. No Cinema fez "Amor de Mula", "Só Deus Sabe", "A Casa de Alice" e "Falsa Loura". Recentes trabalhos como atriz no teatro: “O Casal”, "Ricardo III" (2006), dir. Roberto Lage; "A Grande Imprecação diante dos Muros da Cidade", Celso Frateschi, e "Macbeth", dir. Regina Galdino (2007). Por sua atuação nestas duas montagens, Renata ganhou o Prêmio APCA de Melhor Atriz em 2007. Na TV, participou das novelas "Revelação" e “Vende-se um Véu de Noiva”. É também preparadora corporal, diretora e professora de interpretação na Universidade Anhembi Morumbi.

Sobre Tereza Freire

É mestre em História Social pela PUC/ SP. Atuou como atriz no grupo Ornitorrinco, nas peças "O Doente Imaginário" e "Sonho de uma noite de Verão", dir. Cacá Rosset. Autora dos livros "Dos Escombros de Pagu" e "Selvagem como o Vento", adaptada para o teatro por Denise Stoklos, com Carolina Ferraz. Roteirista e apresentadora do programa "Diário de Viagem" (Sesc TV). Apresentadora de programas da TV Cultura; entre eles: Lanterna Mágica, Trinta Anos Incríveis e Contos da Meia Noite. Dirigiu o documentário "Caminhos do Yoga", na Índia, sobre a busca pela iluminação espiritual. Formou-se em Yoga, com Pedro Kupfer e, desde então, transmite o milenar conhecimento em aulas e palestras. Atualmente, trabalha como locutora em comerciais e documentários; entre eles "Gilberto Gil" e "Guga Kuerten", e edita o blog Yoganavida.

Sobre Patrícia Galvão (Pagu)

Nasceu em São João da Boa Vista (09/06/1910), morreu em Santos (12/12/1962). Foi autora do primeiro romance proletário brasileiro (Parque Industrial) e a primeira presa política deste país. Casada com Oswald de Andrade, destacou-se significativamente no movimento Modernista de 1922. Ainda jovem, trabalhou em fábricas e militou pelo Partido Comunista. Escreveu contos policiais publicados pela revista Detective, dirigida pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, que depois (1998) foram reunidos na obra Safra Macabra. Em trabalhos, junto a grupo teatrais, revelou e traduziu grandes autores, até então inéditos no Brasil, como James Joyce, Eugène Ionesco, Arrabal e Octavio Paz. Fundou um jornal de esquerda com Oswald de Andrade, empastelado pela policia repressora da época. Foi perseguida pela ditadura Vargas. Militou na França, foi presa e deportada para o Brasil. Antes, presenciou a coroação do Imperador Pu Yi, da Manchúria. Presa em 1935, permaneceu encarcerada por 5 anos. Foi torturada e, somente libertada por motivos de doença, pesando cerca 40kg. Tentou suicídio por conta de um tratamento de câncer mal sucedido. Em Santos, tornou-se uma das grandes incentivadoras do teatro amador, responsável pela descoberta de Plínio Marcos. Morreu aos 52 anos, vítima de câncer no pulmão. Seu último marido foi Geraldo Ferraz, crítico do jornal “A Tribuna” (Santos), em que também foi colaboradora. Caiu no esquecimento da história oficial até que Augusto de Campos publicou sua antologia poética e “gritou”: Quem resgatará Pagu?

Dos Escombros de Pagu

Teatro Eva Herz (166 lugares)

Avenida Paulista, 2.073 – Conjunto Nacional/ Livraria Cultura

Informações: (11) 3170-4059 - http://www.teatroevaherz.com.br/

Bilheteria: Terça a sábado, das 14h às 21h. Domingo, das 12h às 19h. Em feriado, sujeito à alteração. Aceita todos os cartões de crédito. Não aceita cheque.

Vendas pela internet: http://www.ingresso.com/

Vendas por telefone: 4003-2330

Quarta e quinta, às 21h

Ingressos: R$ 30

Duração: 70 minutos

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 anos

Estreia dia 08 de setembro

Temporada: até 18 de novembro

Ficha Técnica:

Texto: Tereza Freire

Direção: Roberto Lage

Assistente de Direção: Frederico Santiago

Elenco: Renata Zhaneta

Cenário e Design Gráfico: Heron Medeiros

Figurinos: Gilda Bandeira de Mello

Iluminação: Wagner Freire

Trilha Sonora: Aline Meyer

Fotografias: Cida Souza

Operação de Luz: Rodrigo Ramos Guimarães

Operação de Som: Maurício Inafre

Produção Executiva: Regilson Feliciano

Direção de Produção e Administração: Charles Geraldi e Maurício Inafre

Realização: Charge Produções e Promoções Artísticas

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